Fonte:
G1 (SP)
Edição:
Jorge Luiz da Silva
Serrinha,
BA (da redação itinerante do Blog MUSIBOL)
Capa de 'O réu e o rei' e o autor da obra,
Paulo Cesar de Araújo
(Foto: Divulgação e Bel Pedrosa)
|
Advogado
analisou 'O réu e o rei', sobre biografia tirada das lojas em 2007.
Eles não
veem 'invasão de privacidade, injúria ou difamação' em nova obra.
O advogado de Roberto Carlos disse nesta sexta-feira (30) que não vai
tomar medidas jurídicas quanto ao novo livro "O réu e o rei". Paulo
Cesar de Araujo, autor de uma biografia do cantor tirada de circulação em abril
de 2007, lançou o livro sobre o caso na terça-feira (20). "O réu e o
rei" fala sobre a polêmica proibição da obra anterior.
"Com relação ao livro “O Réu e o Rei”, Roberto Carlos não vai tomar
qualquer medida jurídica, em face de: a) o livro não ser uma biografia sua, mas
uma autobiografia do autor; b) ao contrário do livro anterior, não conter
invasão de sua privacidade e/ou injurias ou difamações a sua pessoa. O livro
'Roberto Carlos em Detalhes' não foi censurado ou apreendido, mas saiu do
mercado em face de um acordo judicial, irrevogável e definitivo, assinado
espontaneamente pelo autor do livro, o editor e a Editora", diz o
comunicado à imprensa, assinado pelo advogado Marco Antonio Bezerra Campos.
Análise
"O doutor Marco Antônio [Campos, advogado] está no circuito e vai
nos dar parecer jurídico para nossa apreciação, e também do Kakay [Antônio
Carlos de Almeida Castro, outro advogado]", disse Dody Sirena ao G1 logo
após o lançamento de "O réu e o rei". A reação de Roberto ao novo
livro será definida a partir deste parecer.
O trabalho chegou às livrarias sem campanha de divulgação pela editora.
De acordo com a assessoria da editora Compahia das Letras, jamais houve um caso
semelhante, em que uma obra da editora, fundada em 1986, não teve campanha
publicitária. A tiragem de "O réu e o rei" (30 mil exemplares), no
entanto, é superior à média. Com 528 páginas, o livro tem um título
complementar que faz referência à biografia banida: "Minha história com
Roberto Carlos, em detalhes".
Roberto Carlos fará o show de reabertura da Pedreira Paulo Leminski no sábado (29) (Foto: Divulgação)Roberto Carlos (Foto: Divulgação) |
O livro sai duas semanas depois de a Câmara dos
Deputados ter aprovado o projeto de lei que libera a venda de biografias não
autorizadas pelos biografados ou por suas famílias, em caso de morte. O texto
ainda precisa passar pelo Senado antes de ir à sanção presidencial.
O Supremo Tribunal Federal também deve analisar a
ação que pede a liberação da publicação. O caso será decidido pelo Supremo
durante o julgamento de ação proposta pela Associação Nacional dos Editores de
Livros (Anel).
No processo, a associação afirma que a atual
restrição imposta aos editores é incompatível com a liberdade de expressão e de
informação. Os autores da ação pedem que o Supremo declare que não é necessário
o consentimento do biografado para que o livro seja publicado.
Editor escreve em blog
O texto de apresentação de "O rei e réu" descreve o conteúdo
citando a controvérsia do livro anterior. "Objeto de verdadeira polêmica
pública, a batalha em torno da proibição de 'Roberto Carlos em detalhes' é o
cerne de ‘O réu e o rei’", informa o material promocional.
"Paulo Cesar de Araújo conta a história da sua intensa relação com
a música de Roberto Carlos, os 16 anos de pesquisa que embasaram a redação da
biografia, e por fim os meandros de uma das mais comentadas e controversas
guerras judiciais travadas recentemente no Brasil."
No mesmo dia em que "O réu e o rei"
chegou às livrarias, o editor da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, fez no
blog da editora um post a favor da liberdade da publicação de biografias não
autorizadas.
"Com essa publicação, procuramos relembrar um
período de injustiças na qual outros escritores e editores – é importante não
deixar de citar Ruy Castro, que conosco pelejou na justiça por muitos anos para
ter sua biografia de Garrincha circulando livremente – foram cerceados",
escreve Schwarcz.
"Serve como testemunho das dificuldades para
escrever biografias independentes no Brasil. Com ele ['O réu e o rei'] a
Companhia das Letras procura contribuir ativamente para a consolidação do
direito do cidadão brasileiro ao conhecimento de fatos relevantes da vida das
suas figuras públicas."
O editor afirma ser "coincidência" o fato de a obra ter saído
logo depois da aprovação do projeto pela Câmara. Também diz que aprovou a
proposta de "O réu e o rei" porque o "livro atendia bem às
minhas duas intenções iniciais: trazer Paulo Cesar para a Companhia das Letras
e marcar posição na luta pela liberdade das biografias".
Procure Saber
A liberdade de publicação de biografias ganhou mais destaque a partir do
início de 2013, quando o grupo Procure Saber – então integrado por Caetano
Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Djavan, entre outros
artistas, e presidido pela ex-mulher de Caetano Paula Lavigne – passou a
defender a proibição de obras não autorizadas.
Os artistas diziam defender o direito à privacidade e destacavam as
dificuldades em conseguir reparar, através de ações judiciais, os danos
posteriores à publicação.
Os biógrafos, contudo, avaliam que a necessidade de
autorização é censura prévia e fere a liberdade de expressão. Dizem que a
necessidade de autorização defendida pelos artistas impediria a publicação de
obras sobre personagens históricos, citando como exemplo a impossibilidade de
se escrever sem interferências um texto sobre generais da ditadura ou sobre
políticos.
O Código Civil brasileiro, em vigor desde 2003, diz
que "a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação,
a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a
seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a
honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins
comerciais".
Foi justamente essa regra permitiu que Roberto
Carlos banisse, em abril de 2007, a biografia escrita por Paulo César de
Araújo. "Roberto Carlos em detalhes" havia sido publicado pela
Planeta em dezembro de 2006. A obra teve a produção e comercialização
interrompidas após acordo judicial entre a editora e o cantor.
O Artigo 5º da Constituição Federal, entretanto, diz que "é livre a
expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença" e atesta que "são
invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação".
Nenhum comentário:
Postar um comentário