Por: Flávio Oliveira. Fonte: Correio 24 horas
Edição: Jorge Luiz da Silva
Serrinha, BA (da redação Itinerante)
Sucesso da música Ziriguidum fez o grupo Filhos de Jorge dobrar o cachê de shows e os investimentos em videoclipe (Foto: Roberto Abreu)
O
investimento é feito desde a gravação do CD. Depois, tem a escolha da música de
trabalho para a folia, parceria com rádios, trabalho em redes sociais, gravação
de vídeos e divulgação em shows.
Música
também é arte, mas na indústria do Axé é um negócio. A banda ou artista que
emplacar a canção mais tocada no Carnaval terá como prêmio maior exposição
midiática, mais shows contratados e cachês dobrados. Lepo Lepo, Molinho e Raiz
de Todo o Bem são três músicas que disputam o título de maior sucesso da folia
deste ano. São também três histórias que ajudam a entender o metiê Carnaval e
as estratégias usadas para que o sucesso não seja, como muitos acreditam,
apenas obra do acaso.
O
sucesso custa caro. Ao menos R$ 300 mil no caso de Lepo Lepo. A canção é
defendida pela banda Psirico, personificado no cantor e compositor Márcio
Victor. Ele, com a banda, já foi o campeão do Carnaval de 2008 com Mulher
Brasileira (Toda Boa). E, há três anos, ganhou como compositor com Liga da
Justiça (Foge Mulher Maravilha). Sua especialidade é o pagode com letras de
conotação sexual e refrão repetitivo. Tem outro ponto forte, a interação com o
“público do gueto”, a festejada nova classe média.
Victor
conta também com a estrutura de uma grande produtora. A Penta Eventos está no
mercado baiano há 17 anos e tem em seu
cast nomes como Alexandre Peixe, Kart Love e Duas Medidas. Empresariava a
Rapazzola quando essa banda teve Coração escolhida com a música do Carnaval de
2005.
Flávio
Maron, um dos sócios da empresa, explica assim seu ofício: “Uma produtora é uma
pequena gravadora, que tem de cuidar de todo o processo que envolve um artista,
desde a gravação e divulgação do CD até
a questão financeira”.
Segundo
declarou, a estimativa é que a transformação de Lepo Lepo na música do Carnaval
tenha um custo de R$ 300 mil divididos em campanhas publicitárias, distribuição
de CDS, promoções com rádios, viagens para turnês de apresentações em programas
de TV de alcance nacional, participação em shows diversos, placas de outdoor,
publicidade no mobiliário urbano, e talvez no aeroporto, e a gravação de dois
vídeos promocionais. Maron advertiu, porém, que a música ainda está em pleno
“trabalho”, e esse número pode subir até a Quarta-Feira de Cinzas.
O
resultado de todo esse investimento é imprevisível. Pelo sim pelo não, Maron
ainda não abriu a agenda de shows do Psirico para o pós-Carnaval. O cachê atual
da banda é de R$ 60 mil. Ao final das apresentações contratadas fica uma margem
de aproximadamente 20%, divididos entre a Penta Eventos e Márcio Victor, sócios
da banda. Outra fonte de receita é o percentual da venda de abadás dos blocos
em que o Psirico é a atração principal.
Foto:
Arte/Correio
Independente
Uma das concorrentes de Lepo Lepo é Molinho, do grupo Filhos de Jorge. O mesmo
que no anopassado emplacou Ziriguidum, uma versão para trio elétrico de uma
canção cubana. Segundo o empresário do grupo, Wagner Miau, a aposta é pela
produção independente, que tem como vantagem maior liberdade para compor e
menor pressão de uma gravadora para dar retorno imediato. A desvantagem seria o
tempo mais lento para se chegar ao grande público e menor retorno
financeiro.
Miau
garantiu que não fez investimentos em Molinho, pois, segundo disse, a filosofia
do Filhos de Jorge não é dar foco a apenas uma música, mas sim a todo o show da
banda. Ou seja, o produto que eles vendem é o show, que inclui canções de
Caetano, Djavan e Raça Negra que estão fora das rádios comerciais.
A
estratégia de venda compreende ainda uma campanha publicitária no início da
temporada dos Ensaios (em dezembro) e o esperado boca a boca da audiência. “A
verdade é que não temos tempo ou grana para outras ações de mídia”, falou.
“Ainda assim, estamos com o Carnaval todo vendido”, concluiu.
A
promoção de Molinho envolveu, desde maio, o custo de R$ 6 mil para a produção e
distribuição de 10 mil CDs por mês e de mais R$ 30 mil na gravação e edição de
um videoclipe. O audiovisual de Ziriguidum custou R$ 15 mil. Coincidentemente,
R$ 15 mil era o cachê da banda até o Carnaval de 2013 e R$ 30 mil é o atual
cachê do grupo.
Saulo,
autor e cantor de A Raiz de Todo o Bem, transita em um caminho entre a
independência do Filhos de Jorge e a retaguarda empresarial do Psirico. Ele é
dono de sua própria produtora, a Rua 15, e mantém parceria com a empresa da
cantora Ivete Sangalo, estrela maior da Axé que listou a canção do parceiro em
seu repertório.
Segundo
a assessora de imprensa de Saulo, Mila Ventura, a repercussão da canção é uma
surpresa. Lançada em abril, o ciclo da música já deveria estar vencido para dar
lugar a Vu, outra canção – mais rápida e por isso mais carnavalesca – também
composta por ele para integrar o primeiro CD/DVD da sua carreira solo. No
entanto, a música continua tocando. A assessora suspeita que a sobrevida
comercial da canção se deve ao fato de ela ser um hino a Salvador. “Hoje,
ninguém mais canta a cidade. Acho que isso mexeu com o público”.
A
escolha pela música do Carnaval, segundo a assessora, foi feita pessoalmente
por Saulo, rompendo com uma fórmula usada por outras estrelas baianas, a
consulta a radialistas para identificar, entre as músicas do repertório aquela com maior apelo para ser “a” música do
Carnaval.
A
assessora afirmou não poder divulgar números da estratégia de divulgação de
Raiz de Todo o Bem, mas elencou as ações tomadas. Entre elas está a
contratação, em dezembro, de uma empresa especializada em Redes Sociais que
desenvolveu duas ações, uma para incentivar os fãs a gravarem seus próprios
vídeos com a música para colocá-los no Youtube e a outra para distribuição de
palhetas para violão entre os fãs.
Semana
passada, também iniciou uma campanha publicitária para divulgar a Pipoca do
Saulo, um trio independente puxado pelo cantor.
Outras peças em que o cantor aparecem são pagas pelos blocos e eventos
dos quais ele participa (a exemplo do Coruja, de Ivete Sangalo).
Imagem
e voz de Saulo – jovem boa praça perfil classe média tradicional - também aparecem
em comerciais. Além do cachê de
garoto-propaganda, essa presença extra na mídia ajuda na venda de sua música.
De
olho nesse filão, a Penta Eventos já estuda como inserir Márcio Victor neste
novo mercado. “Márcio Victor é bom garoto-propaganda, é a cara da nova classe
média e tem credibilidade perante esse público”, contou Maron.
Internet
e rádio são ferramentas de divulgação
A
profissionalização das ações de marketing digital de Saulo - descrita na
matéria anterior - é só mais uma pista da importância que a internet tem como
ferramenta na estratégia de fazer uma canção qualquer se tornar a música do
Carnaval.
Wagner
Miau, empresário do Filhos de Jorge, é categórico: “O Youtube é o principal concorrente das
rádios hoje em dia”.
Até
por isso, afirmou que, em termos de custos para um bom videoclipe, o “céu é o
limite”. Apesar dessa clareza com relação à importância da internet e das
mídias sociais, Miau reconhece que o grupo que empresaria está muito atrás de
seus principais concorrentes. “Trabalhamos a internet de uma forma muito
amadora, precisamos melhorar, pois vemos muitos artistas de menor expressão,
que fazem um trabalho menor, com uma exposição muito maior que a nossa”,
refletiu.
A
principal aposta da Filhos de Jorge continua sendo nas rádios. Para isso,
distribui CDs promocionais e faz parcerias com estações ou radialistas. Miau
nega a prática do jabá.
parcerias
A mesma negativa foi feita por Flávio Maron, que explicou o que seria uma
parceria com uma rádio: “Vamos a shows e eventos promovidos pelas rádios
parceiras, apresentamos nossas músicas, distribuímos CDs, participamos de
promoções tipo dia do fã. Em troca, nossas músicas são tocadas dentro da
programação”.
Em
termos de internet, o trabalho da Penta Eventos é facilitado pelo perfil de
Márcio Victor. “Ele é muito ativo nas
rede sociais, está nas redes 24 horas por dia. Posta tudo. Ele dá uma risada e
posta lá kkkkk”, disse Flávio Maron.
O
cantor do Psirico tem, segundo seu empresário, 157 mil seguidores no Instagram,
100 mil curtidas no Facebook e 263 mil no Twitter.
Tudo
isso potencializa o boca a boca para divulgar suas músicas e shows. Serve
também para alimentar os fãs, um verdadeiro exército à disposição para promover
os artistas e suas composições.
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