Do UOL (Exu-PE)
Edição: Jorge Luiz da Silva.
Salvador, BA (da redação Itinerante)
Cena do espetáculo
"Gonzagão, a Lenda", dirigido por João Falcão em Exu (PE).
Foto: Solange Macedo/Divulgação
A história
de Luiz Gonzaga, mestre da sanfona e ícone do arrasta-pé, é recontada em uma
trama paralela que perpassa por todo o musical "Gonzagão, a Lenda".
O
espetáculo, dirigido por João Falcão, foi apresentado no final de semana, pela
primeira vez, em Exu, cidade natal do rei do baião, no interior de Pernambuco.
Uma das
exibições trouxe significado especial: na sexta-feira (13), o músico
completaria 101 anos se estivesse vivo.
Imagem: jornalanoticia.com/
Com baixo
orçamento, o musical está há um ano em cartaz e já foi visto por mais de 75 mil
pessoas.
Em Exú, a
peça foi recepcionada por 2.000 pessoas que lotaram a praça da pequena cidade
incrustada no pé da serra de Araripe, fronteira com o estado do Ceará.
A plateia
era ocupada por gente que conheceu pessoalmente o forrozeiro, como José Aires
de Alencar. "Conheço ele desde que nasci. Aprendi os primeiros passos de
forró com Gonzaga", disse ele, acrescentando que o pai era vizinho do
músico.
A poesia na
peça de João Falcão, em alguns momentos, se sobrepõe a história real de
Gonzaga.
Duas
mulheres importantes na vida do sanfoneiro pernambucano foram rebatizadas.
Nazarena, o
primeiro amor, virou Rosinha.
E a mãe de
Gonzaguinha, Odaléa, ganhou o nome de Morena. "São nomes que aparecem nas
músicas do cantor", explicou Falcão. O diretor ainda tomou a liberdade de
inventar um encontro inusitado entre duas lendas nordestinas: o rei do baião
ainda menino e o rei do cangaço, Lampião. "É a história de Gonzaga, mas
não é Wikipedia", disse. "Meu foco foi mais o mito".
Na peça,
oito atores e uma atriz dividem o palco para interpretar diferentes fases da
história do garoto pobre do sertão.
A trajetória
é contada por meio de uma viagem musical pelo cancioneiro de Gonzaga.
Seca,
tristeza, amores e alegrias do povo nordestino, já retratadas nas canções,
ganham nova roupagem no palco. "O Xote das Meninas", "Cintura
Fina", "Xamego", "Assum Preto" e "Asa
Branca" estavam entre as mais de 40 canções selecionadas para o musical.
Ensaio em
praça pública
O diretor
contou que, durante os ensaios na praça pública de Exu, se emocionou ao fazer
contato com o que chamou de 'filhotes sanfoneiros do rei do baião'. "A
maneira como cantavam as músicas junto com os atores me fez sentir como eles
têm Luiz Gonzaga na alma".
Foto: imguol.com
Sem se
prender à estrutura básica do forró --sanfona, triângulo e zabumba--, João
Falcão usou outros recursos de sonoridade na peça. Quatro instrumentistas
assinam os arranjos e reforçam o espetáculo com solos (muitos deles
improvisados) de rabeca, viola e violoncelo. Para compor com a sanfona de
Rafael Meninão e a percussão de Rick De La Torre, o diretor chamou para o time
o rabequeiro e violeiro Beto Lemos e o violoncelista Daniel Silva.
"Gonzagão,
a Lenda" foi pensado e produzido por Andreia Alves para o centenário de
Luiz Gonzaga em 2012 e pensou "imediatamente" em João Falcão para a
direção. "Além de ser pernambucano e músico, ele tem uma afinidade muito
grande com o universo de Gonzaga". Segundo ela, 600 atores do Rio de
Janeiro, São Paulo e Minas Gerais se inscreveram para a seleção do elenco.
Ficaram seis (Adrén Alves, Alfredo Del Penho, Eduardo Rios, Paulo de Melo,
Renato Luciano e Ricca Barroso), que atuam ao lado dos atores convidados, Fábio
Enriquez e Laila Garin.
Foto: cerradocarioca.files.wordpress.com /
O elenco tem
ainda o sanfoneiro Marcelo Mimoso, que não é ator e nunca havia assistido a uma
peça de teatro. Ele foi descoberto tocando sanfona em um bar nos Arcos da Lapa,
região boêmia no centro do Rio. "Vieram nos contar que tocava e cantava de
um jeito muito parecido com o de Gonzaga, e de fato ele tem uma potência vocal
acima da média", disse a produtora. "Fomos atrás dele e descobrimos
que completava a renda como taxista". Indiferente à disputa acirrada por
uma vaga no musical, Mimoso de início recusou o convite. "Eu não sou
ator", disse.
O espetáculo
segue em 2014 para mais uma temporada de três semanas no Rio.
Em abril, a
companhia teatral inicia uma série de apresentações em praças públicas no
Nordeste.
*O repórter
viajou a convite da empresa Rede, do grupo Itaú
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