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sábado, 21 de dezembro de 2013

Briga entre integrantes do Secos & Molhados retalha fotos em livro


Por: Tiago Dias. Fonte: Uol (São Paulo)
Edição: Jorge Luiz da Silva.
Salvador, BA (da redação Itinerante)


João Ricardo, Ney Matogrosso, Moracy do Val (empresário) e Gerson Conrad
em foto de 1973. Ary Brandi/Divulgação

 Entre 1973 e 1974, um dos fenômenos mais marcantes da música brasileira nascia, estourava nas rádios, agradava dos intelectuais da contracultura a crianças, e se extinguia em seguida.

O Secos & Molhados deu um rasante no inconsciente coletivo, sob as trevas de ditadura militar, com brilho e velocidade próprios. O curso intenso e veloz é recontado, 40 anos depois, na primeira fotobiografia da banda: "Meteórico Fenômeno", lançado neste mês pela editora Anadarco.


Imagens: tavernadorock.files.wordpress.com (cenadecinema)

Organizado pelo ex-integrante Gerson Conrad, e com cara de almanaque de banca de jornal, o livro repassa não apenas as variáveis artísticas, como também o relacionamento entre Conrad, Ney Matogrosso e João Ricardo.
O racha entre eles ecoa ainda hoje, impedindo uma reunião, mesmo com uma tentadora oferta de R$ 5 milhões para um único show. O livro mesmo sofreu com a briga. As fotos originais da época não foram usadas no livro conforme o registro da lente do fotógrafo Ary Brando. Apenas Gerson e Ney aparecem nelas. João Ricardo não autorizou a publicação de suas imagens e foi retirado em montagens posteriores. Em alguns casos, não passa de um borrão ou uma sombra.

"O corpo jurídico da editora entrou em contato com ele. Foi um procedimento padrão", explicou Gerson.
"A resposta do Ney foi imediata.
Já o João respondeu que não admitia que os ex-Secos ganhassem uns trocos em cima dele.
Deve estar arrependido. Amargamente arrependido".

Procurado pela reportagem para comentar o lançamento do livro e as imagens retalhadas, João Ricardo, que desde a década de 70 vem usando o nome da banda com formações e canções próprias, não respondeu a reportagem. Ney, que sempre se embrenhou por caminhos próprios, "comemora" os 40 anos do Secos lançando mais um disco da consolidada carreira solo. No entanto, não deixa de comentar.  "Acho um absurdo ele [João Ricardo] não ter liberado, pois a história já está feita, e todos sabem o que aconteceu".


Foto: oglobo.globo.com

Gerson, no entanto, não engrossa o coro dos descontentes com a necessidade de autorização prévia para a publicação de imagens e informações bibliográficas. Pelo contrário. "Evidentemente, sou totalmente a favor da liberdade de expressão seja qual for a fonte, evento ou artista. Totalmente a favor. Por outro lado, sou a favor da conduta ética em termos de procedimento, de se pedir autorização. Existe sempre um caminho ético", defende.



"Secos & Molhados".
Eleita a melhor capa de um disco brasileiro, com as cabeças dos (até então) quatro integrantes servidas à mesa.

Musicalmente, o disco também descia muito bem. "O objetivo desse disco era ser (assim como todos naquela época) um "Sgt. Pepper"s Lonely Heart Club Band". Qualquer um que fizesse um disco, almejava fazer uma obra prima. Criativa e única. Éramos influenciados pelo turbilhão musical daqueles anos maravilhosos", conta o fundador da banda, João Ricardo


fotoexpresso.imusica.com.br/.

O começo do fim

Sem aparecer nas imagens, João tem sua importância defendida no livro. Foi ele, junto com Conrad, quem moldou a banda artisticamente. Mesmo que recorde com certo carinho sobre a história do começo do grupo, quando era vizinho de João, no bairro paulista do Bexiga, ele é duro ao apontar o motivo do fim da banda: Dinheiro e ego.

A banda estava prestes a alçar voo internacional, com apresentações programadas no México, Estados Unidos, Japão (mais precisamente em Hiroshima) e uma participação na Copa do Mundo da Alemanha. Naquele momento, o jornalista Moracy do Val, que além de empresário do grupo surge no livro como o grande incentivador do trio, foi impedido de acompanhar a excursão, em maio de 1974.

"Havia uma procuração para João Apolinário, pai de João Ricardo, para que ele pudesse gerir a empresa S.P.P.S. Produções [fundada pelos membros do Secos e Moracy em 1973] enquanto estivéssemos fora. Essa empresa estava indo muito bem. Íamos ficar em uma turnê de 9 meses. No dia da nossa ida ao México, o Moracy foi quase preso no aeroporto. O João usara a procuração para impedir que Moracy viajasse", conta Conrad.

  

Foto: 2.bp.blogspot.com/

A razão para que Apolinário -- também poeta e autor dos versos de "Flores Astrais" e "Amor" --  agisse dessa maneira estaria ligada à vontade da família em tomar o controle da banda. "Naquela época fazíamos uma média de oito shows semanais. Muitas vezes no hotel, o Moracy providenciava documentação em folhas de sulfite de hotel, e não com papeis com a marca da nossa empresa. Mais quanto mais dinheiro ele justificava, mas dinheiro eu ganhava. O pai de João usou disso para conseguir impedir-lo". Era o começo do fim. Gerson conta que Moracy, ofendido, cancelou a turnê. Ney, João Ricardo e Gerson fizeram apresentações apenas no México e Estados Unidos. A gravadora pedia que eles voltassem rapidamente ao Brasil.

"Durante 22 dias de viagem no México. O João fazia ligações secretas para o pai. Eu e o Ney confrontamos ele, e ele acabou assumindo. Voltamos ao Brasil, mas ao invés de melhorar, piorou até chegar o momento do fim do grupo".


Foto: dzai.com.br

O segundo disco, que também leva o nome da banda, chegou às prateleiras em 1974. Gravado sem muita interação entre os integrantes, o trabalho saiu sem o ritmo e o brilho da estreia. "Entramos em estúdio praticamente sem se falar. Não foi cumprido um acordo de divisão das canções. O João acabou entrando com todo o repertório", explica Conrad. A tesoura da censura picotou muitas letras e Gerson precisou escrever uma canção em cima da hora. "Delírio" é a única música do disco não composta por João.

O livro ainda conta que a banda teve alguns dias de sobrevida para cumprir agenda no programa "Fantástico". "Após a gravação, a S.P.P.S deu uma coletiva anunciando o fim da banda."

R$ 5 milhões para a grande volta
O culto em torno da banda aumentou conforme o passar dos anos, sendo comum ofertas e pedidos para a grande volta. A última delas é de 2007 e veio da Prefeitura de São Paulo, que chegou a cogitar desembolsar R$ 5 milhões para que os Secos pudessem, apenas mais uma vez, cantar canções como "Rosa de Hiroshima" e "Sangue Latino" e "O Vira".

"O então secretário municipal de Cultura [na época, Carlos Augusto Calil] pediu para conversar comigo depois de um show que eu estava fazendo. Eles disseram que tinham acabado de trazer os Mutantes para o aniversário da cidade e que queriam por que queriam o Secos", relembra. Nem um troco a mais conseguiu com que os integrantes deixassem para trás as rusgas. "Ney estaria na Itália na data, mas não disse necessariamente não. Fui procurar o João após anos sem vê-lo. Ele virou e me disse: 'me dê um motivo para que eu toque novamente com você'", conta Conrad, em meio a uma saraivada de críticas ao antigo companheiro de banda.


Secosvio. Foto: img.youtube.com/

Essa história ficou de fora do livro, mas Conrad conta muitas outras e diz se sentir bem por contar, pela primeira vez, sua visão da tumultuada trajetória do Secos. "40  anos depois, tive a oportunidade de publicar um depoimento maduro e conciso", relata. Mesmo sem o grande retorno do Secos e Molhados, ele explica o seu grande trunfo década depois. "É a visão de alguém que não conseguiu ser mordido por essa coisa chamada sucesso", diz.





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